sexta-feira, 20 de maio de 2022

Existo, logo ocupo

Cresci ouvindo a frase " Penso, logo existo". Como seria bom se toda a existência se resumisse ao que penso. No entanto,  "existo, logo, ocupo". 
O corpo pequeno que ocupa espaços.  Ocupa uma cama, uma mente, uma vida, ou várias,  várias de tudo. Eu quero caber, mas caber não é se encaixar ou entrar na forma, o que seria se conformar. Entrar em forma ou se conformar é se adaptar ao outro, ao externo. Talvez isso não seja ruim, quando o tamanho do outro coincide com minha largura ou é tão mais amplo que me cabe e sobra espaço. 
Gosto de sentir que ocupo o suficiente ou me sobra espaço. Quem cabe na cama não ocupa sofá,  não ocupa cadeira, porque sobra, vira um excesso desconfortável,  como se não fosse pra estar ali. É uma questão de capacidade, como num elevador que dá conta de até 5 pessoas e se você for 10 pessoas, o elevador quebra, para de funcionar, para de andar. Nota mental. Somente entrar em elevador que caiba todas as minhas pessoas. 
Sou peixe. E peixe gosta da imensidão do mar. Onde cabe um peixe cabe muitos. Mas peixe precisa se mover pra estar vivo. Não pode parar, segue em frente em busca de espaço,  mais espaço. 
 Sou muitas.  Sou tantas que não dou conta de mim. Mas preciso organizar todas essas muitas. Uma lista de prioridades.
 Felicidade ou paz? Seria a felicidade ter paz ou paz é conformar-se ( entrar na forma de) ou daquele espaço que a vida me dá? Olha, eu sei que você é grande e precisa de uma cama mas toma aqui esse sofá.  E eu me contorço pra encaixar no sofá.  
A vida tem arte,  números,  lógica, pressa, planos, calmaria, realidades, sonhos, projeções. 
 Ah, as projeções! Como é fácil projetar fora aquilo que é fácil se criar dentro. Mas dentro o universo é controlado, como uma amostra estatística limitada,  fora , a quantidade de variáveis aumenta e o estudo perde controle. 
O problema é projetar ou não saber voltar? Projetar é fingir caber? Seria um peixe feliz no aquário? Será que no aquário ele também projeta o mar? Será que ele faz do sofá que lhe deram uma cama mental pra simplesmete estar e viver dia após dia? Será a vida um enterno cálculo de probabilidades? Encaixar os anseios e sonhos dentro das reais probabilidades,  caso contrário,  não se é feliz?
 E o espaço? a cama, o sofá,  a cadeira, o peixe, o mar, a água, a adaptação,  o curso da água pelas pedras, o deixar levar-se ou deixar ir...eis a questão. 

Inspirado no livro " A redoma de vidro" de Sylvia Plath.

Lee.

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